23 de abril de 2009

Ouro Preto - MG - Brasil

Se por outras vidas passei, com certeza numa delas fui mineira.
A cidade que melhor conheço e a que mais adoro é Ouro Preto.

"Uma fabulosa e linda cidade setecentista encravada num vale profundo das montanhas mineiras. Anacrônica, espantosa, fascinante... Ouro Preto ressurge como uma visão, uma miragem em meio à densa névoa matutina. A sensação para os visitantes de primeira viagem é empolgante. De repente parece que a viagem no tempo é uma realidade. Uma romaria de vivos se mistura a uma romaria de mortos. Figuras históricas e/ou anônimas se confundem aos contemporâneos. Esbarram e semeiam falácias".


Ouro Preto para lembrar...



mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmCarnaval, 1996.
Maricy numa fotografia inspirada. Estou na dúvida se foi clicada por mim.


Ouro Preto para ouvir...



Ânima - Zé Renato e Milton Nascimento


Ouro Preto para sentir...


Eu “Ouro Preto”

Por: Públio Athayde

Pois é, essa crônica tem o nome do bolg do Ronald Peret, mas ele é meu amigo há tempo suficiente para eu tomar essa liberdade de pedir emprestado um título sem comunicar antes. Além do mais, de muita história de nossas infâncias, temos em comum Ouro Preto, terra mais que própria para vivermos as histórias de sempre, da infância, adolescência, maturidade... E vivermos as histórias de antes, de nossos pais, avós... E as histórias de quem está na história: Olímpia Cota, Bené da Flauta, Tiradentes – gente que não existe mais, mas cujas histórias eternizaram e mitificaram seus nomes, apelidos e feitos. Eu “Ouro Preto” é título, aqui e lá no blog do Ronald, mas esse título é verbo, percebem? Eu “Ouro Preto”, tu ouro pretas, ele ouro-preta, nós ouropretamos... É o verbo ouropretar, regularíssimo, conjugável em todos os tempos, modos e pessoas. Todos podem ouropretar, todos podem praticar a ação de viver Ouro Preto que o verbo expressa. Mas ouropretar expressa sentir a cidade, interpretá-la, tentar compreendê-la, passar pelo menos uma noite gélida perambulando em meio à névoa, entrevendo as ruas e as torres, e pelo menos um dia tórrido no alto do morro apreciando o conjunto setecentista. Em ponto menor, ouropretar pode ser até despencar de ônibus pelo meio da manhã, passar pelo Pilar em meia hora, correr para São Francisco e Conceição, engolir um feijão tropeiro com torresmo, ver um museu de cada lado da Praça Tiradentes e voltar para a rodoviária. Mas fazer isso é sempre uma experiência incompleta de ouropretação. Nem todos têm o privilégio do Ronald e meu, que pudemos ouropretar desde o primeiro vagido e seguir ouropretando por décadas. Mas não é o tempo que conta, não é o tempo da quantidade de horas, semanas ou anos. O que conta é á intensidade do olhar, a obliqüidade da análise, a sutileza de perceber as diferenças do aroma da cidade na canícula de uma estiagem invernal ou na bolorenta invernada das consoadas. O que conta é tentar aprender a distinguir a voz o Elias dentre seus pares. É saber qual pedra da capistrana oferece risco quando garoa. Para entender as coisas que mencionei nas últimas frases, precisa ter ouropretado o suficiente para consumir no Chafariz o angu de uma bruaca de fubá. Tem que ter tomado cafezinho de mocotó e de jacuba na cozinha. Ouropretar é viver os tempos da cidade, o tempo de agora, pois a cidade está viva, pulsante, se transformando, crescendo. Ouropretar é viver Vila Rica no tempo geológico, de seus morros que escorrem quando a piçarra satura de águas, em aluviões de ouro ou de morte, riqueza ou miséria. É viver os tempos das artes, nos resquícios de saramenha, nos contrafortes de São João, nos arcos das sete pontes. É chorar por um verso de Dirceu e por um compasso de Lobo de Mesquita. Ouropretei Nelo Nuno e ouropretei Jair Inácio. Ouropretava Honório Esteves e ouropretava Athayde se tivesse tido chance. Mas podemos ouropretar tudo de melhor desses quantos, pois, assim como a cidade, permanecem. Ouropretar é viver nos tempos do calendário, até mesmo da folhinha de Mariana, tão certa no tempo da chuva, do sol e do vento quando podem ser as tabelas canônicas. É viver os tempos das festas e das rezas: Amendoim, Setenário, Bom Jesus, Reisadas, Semana Santa, Cinzas, e mais meia dúzia para cada altar pela cidade afora, mais uma para cada cruzeiro, ponte, passo, oratório ou promessa feita. Ouropretar é namorar no adro, conhecer pelo menos uma centena de nomes da aguardente de cana – goste dela ou não – e saber que remédio era a cardina que mitigava as penas do Aleijadinho. Ouropretar é viver nos tempos dos relógios, no tempo do relógio do Museu, de meia em meia hora audível nas caladas. Esse tempo que marca a divisão entre o trabalho ou estudo e o ócio. Entre construir e preservar a cidade ou fruí-la, desfrutá-la, ouropretá-la. Esse é o tempo do sono sob pilhas de cobertas, o tempo de despertar cedo para ficar mais tempo à toa, o tempo do encontro ou do desencontro – dependendo se o ouro-pretano use como referência o relógio da torre da nascente ou do poente de Santa Efigênia, suprema sabedoria do arquiteto português que, financiado pelo africano com ouro da Encardideira, dá direito de optar até no ritmo da vida. Ouropretar é fundir os tempos dos verbos e da história, é amalgamar o passado ao manhã, projetando o futuro em que se possa manter contato com o ontem. Pode-se ouropretar cada um a seu modo, a seu tempo, a sua arte, mas garanto-lhes que sempre Eu “Ouro Preto”.

Perfil do Autor:
Nasci, o parto foi natural. Tentaram me educar, hoje eu mesmo tento. Fiz o que todo mundo faz, até os 14 anos; como ninguém conta, eu também não. O resto só fui fazer depois de formado. Fui educar os outros, nem tive o mesmo sucesso dos que tentaram comigo. De 1961 em diante, queria que os anos tivessem 11 meses, detesto dezembro. Plantei árvore, cortaram. Escrevi livros, não publicaram. Compus uma música, só eu gravei – mas já esqueci a letra. Pinto, mas nunca vendi nada. Quando estive em Paris nevava e chovia; em Lisboa, de tarde, arrefecia; Roma continuava cheia de romanos – me disseram que os bárbaros tinham tomado a cidade, mas acho que não. Sempre que posso esqueço o que ia dizer. Só lembro o nome das pessoas quando não preciso. Não sei de cor nenhum poema todo. Tenho medo de tédio e de solidão.

http://emouropreto.blogspot.com/

12 comentários:

Renata, as Magnólias e a Estriquinina. disse...

Fui em julho passado pra Minas. Conheci Ouro Preto... relamente uma cidade linda, encantadora; mas confesso que cansei por subir várias lombas, um belo exercício.

Daniel Silva disse...

Que bacana... é um dos locais desse mundão de Deus que ainda preciso conhecer...

Obrigado por passar no meu blog.

Ana Vieira disse...

Parabéns pelo blog!!Espero ir para Minas nunca fui mais um dia quem sabe to lá!

Daniel A. S. disse...

Ouro Preto realmente é uma cidade encantadora, dessas que você só vê aqui em minas mesmo, tive a oportunidade de passar um dia muito agradável lá, eu recomendo.

Um abraço!

http://daniel.a.s.zip.net

BESTEiRENTO disse...

mais um daqueles lugares com casinhas e ruinhas
mto bunita essa cidade
tambem é um importante patrimonio historico
_____
boa sorte ai
abraço

On the other hand disse...

Gostei viu? Eu nunca fui em Ouro Preto. Mas pelo que você disse deve ser maravilhoso mesmo. Parabéns

vai aee:

http://genilsonaraujo.wordpress.com/

Bruno disse...

Ouvi e tentei sentir Ouro Preto. Acho que consegui. Esse clima de cidade que a gente vê em filme e não acredita, onde a infancia é mais do que uma lembrança...

Ta aí. Agora quero visitar (quem sabe quando o bolso deixar!) Enquanto isso vou levando essa São Paulo de prazeres e desgraças nas costas.

marretada disse...

Hum ouro preto..
Já ouvi falar mas não conheço.
Me disseram que é muito bonita..
Eu queria conhecer muitas cidades de Mg...como ouro preto, santa rita de ibitipoca, poços de caldas, por ai vai..

Groo disse...

Ouro Preto é uma meta.

Na verdade, as cidades históricas de MG constituem-se em uma meta. Eu preciso e quero conhecê-las. Questão histórica, questão de gosto, questão de brasileiro, mesmo.

Nem quero saber de Paris, NY, Roma...quero conhecer meu país, primeiro.

abs!

Públio Athayde disse...

Obrigado por replicar meu artigo!
Convido seus leitores a meu blog: http://emouropreto.blogspot.com/
Cordial abraço, apareça sempre!

Sofista Minimus disse...

Giullianne,

Adoro Minas Gerais, a sensação, música: Clube da Esquina...

Maravilha. Não consigo dizer em palavras...

Gostei do Blog. Vou tentar seguir.

Abraço,

Sofista Minimus.

www.deseptemartibus.blogspot.com

Públio Athayde disse...

Esse texto e outros sobre nossa Ouro Preto eu publiquei recentemente no livro EU OURO PRETO - http://clubedeautores.com.br/book/8976--Eu_Ouro_Preto - grande abraço.